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sábado, 12 de agosto de 2017

Novos carros da polícia têm problemas mecânicos e geram reclamações; SSPDS aprova

Um mês após o Governo do Ceará entregar 329 novos carros para compor a frota da segurança pública, "pelo menos" 30 veículos já estão fora das ruas devido colisões e problemas mecânicos, segundo denuncia a Associação dos Profissionais de Segurança (APS). Policiais também reclamam da baixa potência do motor, do desconforto e do elevado consumo de gasolina das novas viaturas. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que os carros foram aprovados pela polícia e que, atualmente, somente cinco automóveis estão no conserto.


Os novos carros da polícia do Ceará, modelo Renault Duster, foram entregues no dia 11 de julho. Ao todo, o governo investiu mais de R$ 28 milhões na compra dos veículos e dos equipamentos automotivos. Atualmente, a frota da Segurança Pública é composta por carros do tipo utilitário esportivo (conhecido como SUV) modelo Renault Duster e as caminhonetes Toytota Hillux; as Hillux, segundo agentes de segurança ouvidos pelo G1, são "melhores para o trabalho policial".

No mesmo dia da entrega dos 329 automóveis, dois carros da Polícia Militar colidiram na região do Cariri. Durante o percurso, na cidade de Ocara, um dos veículos teve um dos pneus furados, e a viatura que vinha logo atrás bateu. Os carros precisaram ser levados para reparos.

No dia 30 de julho, um veículo apresentou problemas mecânicos e incendiou durante uma patrulha na rodovia CE-065, em Maranguape. Os próprio policiais utilizaram baldes com água e mangueira para controlar as chamas. O carro ficou destruído. Ninguém ficou ferido.

Consumo de gasolina

O presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), sargento Reginauro Sousa, diz que os policiais militares que passaram a trabalhar com os novos carros têm apresentado reclamações quanto ao desempenho do Duster nos patrulhamentos. Uma das queixas é o elevado consumo de gasolina, em comparação com as antigas caminhonetes. O SUV está percorrendo, em média, quatro quilômetros com um litro de gasolina. Segundo a APS, isso faz com que os carros tenham que permanecer mais tempo parado a fim de economizar combustível.

"É um consumo muito alto para o policiamento ostensivo, que pede que a viatura esteja se deslocando ao máximo nas ruas. Então, com esse consumo maior e o custo no orçamento, a tendência é que a viatura fique mais tempo parada. E isso não é bom para a segurança pública. Precisamos de uma viatura cada vez mais em movimento. Porque se a viatura fica mais tempo parada, isso causa uma sensação de insegurança", comenta.

Já a Secretaria da Segurança informou que os automóveis policiais "têm autonomia para percorrer sete quilômetros com um litro de gasolina".

Reclamações

Além do consumo, Reginauro diz que os policiais se queixam do tamanho interno dos veículos e do câmbio manual, já que o agente precisa passar o dia transitando pelas ruas durante as rondas. Um policial militar, que preferiu não se identificar, comentou que os novos veículos também não apresentam o mesmo desempenho das caminhonetes durante perseguições policiais.

O presidente da APS acrescentou que alguns carros dos novos modelos apresentaram problemas de superaquecimento no motor e desgaste recorrente em algumas peças internas.

"A Hillux tem um valor maior, mas é um carro mais durável, tem mais força. Esses novos carros deixam a desejar, pois tem durabilidade menor e não estão resistindo às perseguições policiais. A PM precisa de um carro durável. Em breve pode ter um acúmulo de viaturas dando problema e que acabam saindo das ruas. Pra mim, foi uma troca cara para o estado que [o novo veículo] pode não aguentar um ano [de uso]", reclama o agente.

Viaturas em 'pleno funcionamento'

Em nota, a SSPDS comunicou que 270 viaturas foram destinadas para a Polícia Militar e que, atualmente, cinco estão em oficinas para reparos mecânicos. A pasta acrescentou que esses modelos de veículos são utilizados em outros 17 estados do país. No Ceará, a secretaria diz que os novos carros estão em pleno funcionamento e foram aprovados pela polícia.

"A SSPDS esclarece que as viaturas do modelo Duster estão em pleno funcionamento, atendendo a demandas dos policiais militares e da população, incrementando o reforço da frota, bem como aprimorando a atuação policial no estado."


Especialista opina

O engenheiro e jornalista especializado no ramo automotivo Fernando Calmon defende que os utilitários esportivos não são os veículos ideais para uma atividade que exige maior força, com é o caso da polícia. Ele diz que, nesse caso, o valor do veículo não deve ser o primeiro fator levado em consideração no momento da aquisição.

"No geral, o carro policial você não pode ser comprado pensando somente no bolso [preço]. O problema não é o Duster, é o tipo SUV. Não podemos comparar uma pick-up com um SUV. Nesse caso, em específico, é lógico que a Hillux é melhor para esse tipo de atividade [policial], que exige uma robustez maior", comenta.

Apesar de defender as pick-ups para a polícia, o especialista diz que o tipo de veículo também pode variar de acordo com cada atividade desempenhada.

"Com certeza, uma pick-up é mais resistente que um utilitário esportivo. Mas tem que fazer o peso, potência e desempenho, pois o tipo de carro depende de vários fatores. Uma polícia florestal, por exemplo, vai precisar de um carro mais robusto, porque vai andar em terrenos mais arenoso, com buraqueira. Agora, se é um carro que vai permanecer um tempo parado, que não exige tanta força, aí usa um SUV pequeno, que não tem nenhum problema. Tudo vai depender da especificidade da atividade e da rotina do trabalho", disse.

Sobre o consumo de combustível, o engenheiro opina que "um veículo que consome muita gasolina não é aconselhado para esse tipo atividade. O ideal é que a polícia, que roda muito durante o dia, utilize um carro a diesel, que apresenta um desempenho melhor".

Fonte: G1