Relatório final do inquérito da Polícia Civil do Rio de Janeiro que baseou denúncia contra 23 ativistas e Black Blocs aponta que os baderneiros planejavam ações com bombas para o dia 13 de julho, data da final da Copa do Mundo no Maracanã. Trechos do documento foram divulgados na edição desta segunda-feira do jornal O Globo.
O inquérito se baseia em informações obtidas a partir do monitoramento de e-mails e telefonemas trocados pelos integrantes do grupo – e revela como os black blocs se organizavam de modo a fabricar e distribuir bombas e outros artefatos com o objetivo de ferir policiais. De acordo com o documento publicado pelo Globo, baderneiros escondiam bombas nos locais onde haveria protestos.
Os baderneiros – segundo as investigações, chefiados por Elisa Quadros, a Sininho — organizavam-se em comissões: um grupo era responsável por planejar os protestos e confeccionar e distribuir bombas, coquetéis molotov, e os chamados “ouriços”, peças feitas com pedaços de vergalhões usadas para furar pneus de viaturas. Outro grupo integrava a chamada linha de frente, composta na maioria por jovens de baixa escolaridade que integravam os atos de vandalismo.
Segundo o jornal, em 2.000 páginas de relatório a Polícia Civil informa que a ação dos black blocs planejada para a final da Copa incluía uso de bombas de fragmentação – caracterizadas por provocar mutilações –, coquetéis molotov e “ouriços”. O ato marcaria o chamado “Junho Negro” dos baderneiros. Um integrante do grupo interceptado afirma que estaria disposto a matar um PM durante a ação.
O inquérito baseou a denúncia apresentada ao juiz Flávio Itabaiana e resultou na determinação da prisão preventiva dos 23 investigados. Conforme reportagem do site da revista Veja, o promotor Luís Otávio Figueira Lopes descreveu que Sininho incitou manifestantes a incendiar o prédio da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, durante a ocupação do local por baderneiros no ano passado - o ato foi impedido por outros participantes do protesto.
Do grupo formalmente acusado neste processo, apenas cinco estavam presos na noite de sexta-feira: três desde o último sábado (Elisa Quadros, Camila Jourdan e Igor D'Icarahy) e dois desde fevereiro (Fábio Raposo e Caio Silva). Outros 18 são considerados foragidos. Eles são acusados de participar da organização e realização de crimes durante protestos nos últimos meses e de planejar atos violentos para a final da Copa do Mundo no Brasil.
Em um dos telefonemas, Camila Jourdan se revolta com a apreensão, pela polícia, de 178 ouriços e 20 bombas escondidos numa bolsa numa área de vegetação da Praça Saens Peña, na Tijuca. “Foram três dias de trabalho jogados fora. Perdemos tudo, é isso?”, pergunta Camila ao interlocutor. Irritada, refere-se a e Rafael Caruso como irresponsável, segundo escutas divulgadas pelo jornal.
Explosivos - Outro caso mencionado pela promotoria é o da professora Camila, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ela e o namorado Igor D'Icarahy tinham mandado de prisão temporária por associação criminosa armada. Foram presos em flagrante no último sábado, pela posse de artefato explosivo, porque a polícia encontrou uma bomba caseira, com potencial letal, no apartamento onde estavam, conforme revelou reportagem do site de VEJA.
Ainda de acordo com a denúncia, escutas telefônicas, feitas com autorização judicial, permitiram acompanhar a participação de Camila na elaboração de artefatos explosivos e na entrega desse material para black blocs. Já Igor D'Icarahy é acusado de participar de atos violentos e da organização das atividades do grupo, especialmente no transporte de material a ser utilizado em manifestações e no repasse de informações sobre a movimentação de policiais.
Mesmo com a conclusão do inquérito e o início de um processo penal na 27ª Vara Criminal da Capital do Rio contra 23 envolvidos, o promotor destaca que as investigações devem permanecer, inclusive em relação às cinco pessoas que não foram denunciadas, e que outras pessoas podem ser posteriormente acusadas como participantes dos grupos denunciados.